Agora pensem numa comédia musical recheada de canções vivas e felizes
Agora pensem num filme para adultos softcore com uma menina inocente e ingénua
E agora juntem os três! Sim, é isto que é Alice in Wonderland, de 1976, uma adaptação bastante liberal (em todos os sentidos) do clássico de Lewis Carroll. Encontrei um artigo sobre ele, por acaso, algures na internet, e (claro!) decidi sacar o filme.
O que mais me espantou é que não é nada do típico filme porno (baixo orçamento, actores que não são actores, e nenhuma história). Não, o filme, além de ter um enredo, diálogos e humor, tem pelo menos 10
canções coreografadas (os musicais da Disney geralmente têm 5), que são agradáveis e divertidas; e o facto de geralmente serem cantadas ao mesmo tempo que
outras coisas mais inquietantes acontecem no ecrã contribui para a experiência sublime que este filme dá. Tão famoso ficou, que até Roger Ebert, o mais respeitado crítico de cinema norte-americano, escreveu uma crítica à data da estreia.
(clique nos links para ver imagens... ou se calhar é melhor não...)O filme começa com
Alice, uma
bibliotecária tímida e virginal, que rejeita um encontro com
o homem que ama (um mecânico de automóveis) porque tem medo que ele vá longe demais. Quando ele parte, a aborrecida Alice
folheia o livro "Alice's Adventures in Wonderland", e começa a
cantar uma canção (que por acaso até está bem interpretada) sobre aprender a ser livre. Em resposta à canção, o Sr Coelho aparece e leva Alice através do espelho para o País das Maravilhas, onde se
passam coisas que devem fazer o pobre Lewis Carroll dar voltas no túmulo.
Contamos com as aparições de
Twiddledee e Twiddledum, que são uma irmã e um irmão um tanto incestuosos, um
Chapeleiro louco que tem mais atributos além dos chapéus, uns
Gatos Cheshire que "secam" Alice com as suas línguas quando ela se molha no lago, um
Humpty-Dumpty que precisa de
ajuda de Alice para
o levantar (e cujo sucesso é seguido de
uma canção), e uma
Rainha de Copas que tem ideias muito fixas acerca de castigos corporais. Também há as pedras que falam quando alguém se senta nelas, mas estas não se queixam.
As cenas são separadas por "
title cards" (como nos filmes mudos), que geralmente têm um trocadilho cheio de
insinuações.
Este, por exemplo, é seguido da canção "What's a pretty girl like you doing on a night like this?" (com a piada sendo que a
rapariga está
sentada em cima de um cavaleiro [knight]). "What's a pretty girl like you doing on a knight like this; on a 'thing' like that; Should have been careful where you sat!"
Há muitas mais canções, acompanhadas de
números de dança, com
gente a saltar por todos os lados, e ficamos com a sensação de que as pessoas que fizeram isto se estavam de facto a divertir (o que não deve acontecer com a pornografia actual). Há linhas de humor memoráveis e hilariantes, e o argumento está bastante bem escrito (pelo menos em relação ao que eu esperava). Até Kristine DeBell, a actriz que faz de Alice, vagueia por Wonderland com o seu ar de
feliz ignorância, enquanto os seus habitantes lhe dão um
curso rápido em 50 passos de como manter o namorado. Mas ela vai muito bem; talvez seja o seu ar de total inocência e
espanto quando confrontada com os passatempos animados de Wonderland que a faz tão sexy. Foram estes filmes dos anos 70 que estabeleceram o cliché da menina loirinha e fresca, com grandes olhos e a boca semi-aberta que entretanto foi substituído pelo "
porn look" (vulgo, cara de bimba, muito silicone, plásticas e ar de "Oh, YEAH!").
No fim, Alice volta do seu sonho e decide avançar com o seu namorado (este avanço é mostrado em pormenor), aprendendo uma lição sobre a vida: "You have to learn to trust yourself: what feels good IS good."
Então era ISTO que os americanos estavam a fazer enquanto nós brincávamos às revoluções democráticas...