quinta-feira, junho 01, 2006

Sistema anticópia explicado através de leiteiros.

Tu és um vendedor de leite. Desesperado por ficar rico, e apesar de o leite não ser grande coisa, tu começas a aumentar o preço do leite até que quase ninguém o pode comprar. Irritados com a situação, alguns consumidores descobrem uma maneira de tirar o ADN das vacas e clonar o leite em laboratório; depois, sem cobrar nada, começam a distribuí-lo de porta em porta. O leite grátis é mal acondicionado e tem um aspecto esquisito, mas sai muito mais barato. Tu achas que são esses mercenários (e não a qualidade vergonhosa do teu produto) que te estão a fazer perder clientes. Para os recuperar, tu tens várias opções. Podes esforçar-te para melhorar a qualidade do leite e baixar os preços; esta solução é boa para ti e para os clientes. Mas como tu achas que o problema está nos piratas, e não em ti, escolhes outro caminho.

Desenvolves um novo sistema de embalagem que obriga as pessoas a beber o leite através de uma palhinha especial, adaptada para que só se possa tirar de lá o leite com a boca. Não o podes pôr num copo, não lhe podes misturar chocolate, não o podes pôr no molho dos bifes. Para piorar a situação, algumas pessoas nem sequer conseguem utilizar o novo sistema porque as suas bocas não são do formato certo; a maioria acha-o irritante dado que tu nem os deixas guardar o leite no recipiente que bem lhes apetecer; e de qualquer maneira uns chicos espertos descobrem rapidamente uma forma de o extrair da embalagem à mesma. Entretanto as vacas revoltam-se com o tratamento que está a ser dado ao seu produto e criam as suas próprias empresas leiteiras.

Parabéns! Acabaste de agir como uma companhia discográfica; pioraste a experiência do consumidor, gastaste milhões a desenvolver um sistema de segurança inútil, ainda não conseguiste baixar os preços, e a qualidade do produto está cada vez pior.
Este texto vem de uma onda de irritação que me percorreu quando comprei um CD dos Beatles e não consegui passar as músicas para o iPod nem ouvi-las na minha aparelhagem por causa do sistema de anticópia. Também não consigo ouvir os CDs de Placebo que me emprestaram, porque a minha aparelhagem não é compatível. Ou seja, comprei um disquinho brilhante e frágil que nem serve sequer de apoio para copos; entretanto acabei por sacar as músicas do eMule à mesma.

Nos Estados Unidos supostamente pode-se apanhar até 3 anos de prisão por copiar material audiovisual. Mas esta lei é impraticável; não se pode mandar todos os utilizadores de redes P2P para a cadeia, e também não se pode pegar em pessoas individuais ao acaso e metê-las dentro. Seria injusto, as prisões ficariam a abarrotar (e já estão), e o dano causado por um utilizador é simplesmente demasiado pequeno. Se um processo fosse aberto para cada download, os tribunais e as forças de segurança ficariam entupidos com ninharias, e sem tempo para tratar dos verdadeiros criminosos. Sabem, os que violam e assassinam pessoas.

Os franceses são bastante mais espertos que os americanos. A nova legislação francesa sobre o copyright estabelece apenas pequenas multas para quaisquer pessoas que sejam acusadas de copiar conteúdos. A Apple chama a esta legislação "Pirataria patrocinada pelo estado". Isto é verdade, se a tua definição de pirataria for pegar em algo que compraste e te pertence, e usá-lo de uma maneira que as pessoas que te venderam o produto não aprovam. É esta a nova definição de pirataria para as lojas online, que te obrigam a instalar o software e hardware deles, comprar os leitores de MP3 deles, usar o formato deles e só ouvir a música deles.

O que é que aconteceu ao sistema cuja eficácia está provada há séculos: "O Cliente tem sempre razão"? Supostamente, se compro um produto e não posso usufruir dele, ele está defeituoso e deve ser trocado. Nos EUA, várias pessoas já processaram as companhias por causa destas brincadeiras, e ganharam algumas vezes; mas é uma gota no oceano.
Entretanto, a tecnologia está a trazer-nos maneiras cada vez mais inovadoras de ouvirmos a nossa música e vermos os nossos filmes: em casa, na rua, no comboio, até no banho! E em vez de dar mais possibilidades, a indústria está a esforçar-se para nos tirar essas possibilidades, e devolvê-las numa forma restringida, que lhes permite ir ao nosso bolso cada vez que tentamos usar os seus produtos!

O que tenho eu a ver com os supostos problemas financeiros das discográficas? Elas já são riquíssimas, dado que a maior parte dos lucros vão para o seu bolso, e não para o dos artistas. Madonna vendeu até hoje mais de 200 milhões de álbuns. Se todo o dinheiro fosse para ela, só esses álbuns (sem contar com direitos de autor, singles, concertos, etc) dar-lhe-iam uma riqueza de 5 Biliões de euros (ou €5'000'000'000). A sua riqueza total estimada é entre 400 e 700 milhões. Pobre rapariga, é enganada à força toda.

A conclusão é: não comprem CD's da EMI ou de outras companhias que tenham sistemas de anticópia como o CopyControl. Saquem mas é as músicas, e se quiserem mandem cartas ou mails aos artistas, com uma explicação sobre porque é que não compram os CD's, e as vossas preocupações sobre o futuro da música (profundo, eu sei). Além disso, há outras maneiras de suportar os atistas: espalhar a palavra, merchandising, concertos, e o simples apoio de ser um fã. As discográficas são os verdadeiros "bad guys" do momento.

Ainda estou com pena da Madonna.

6 comentários:

Mokas disse...

POR FAVOR !METAM-ME LETRA MAIOR NOS POST.. e uma letra que nao pareca estar em italico! fico com os olhos em bico..

Ju_prsna_bradavica disse...

Esses sistemas anticopia deviam permitir que se passasse as músicas de um cd para um MP3, é verdade. Mas não suporto aqueles sites tipo Kazaa, emule, soulseek, etc, etc. Sim, os cds/dvds deviam ser mais baratos. Mas parece-me que sacar constantemente músicas da net tira o prazer que é passar horas na Fnac. É uma perspectiva idealista, eu sei. Contudo, o cinema é bastante mais prejudicado que a indústria discográfica, e é principalmente nesse caso que a pirataria me irrita. Qual é a satisfaçao de sacar um filme da net com legendas em portuguÊs do Brasil e com uma imagem péssima? A maioria das pessoas só se preocupa com o que gasta em termos monetários no que mais lhe convem. "Ah, nao vou ao cinema porque é muito caro!" (mas é capaz de ir ao Rock In Rio...) "Não compro cds. Que roubalheira!" (no fim do mês verão essa pessoa a gastar metade do seu ordenado numa almoçarada na Portugália e à noite vai beber umas bejecas... Por que é que ninguém se queixa do preço do alcool? Eu cá acho um abuso.)

belard disse...

leva as tuas proprias garrafas para a discoteca e mistura na casa de banho. sai bem mais barato.
E quanto ao emule etc, não me corta minimamente o prazer de passear pela fnac; as músicas e bandas que eu realmente gosto, compro os cds, claro (excepto se tiverem CopyControl). Mas as discograficas cometem um erro ao calcularem o prejuízo que a pirataria lhes dá: elas partem do princípio que tudo o que as pessoas sacam, comprariam na realidade, ou seja, que cada download feito é mais uma música que eles não vendem. Isto não é verdade; mais de 90% da música que saco, eu nunca compraria: por exemplo, anjos santamaria, james blunt ou madonna.

Ju_prsna_bradavica disse...

nao posso levar garrafas pra dentro de discotecas.

belard disse...

eu sei, era uma piada.

belard disse...

E quanto aos filmes, como muitos demoram meses a chegar a Portugal (às vezes chega a um ano), é frequente eu sacar um filme de que gostei mesmo antes de ele sair em DVD, e depois comprar o DVD à mesma; para mim os downloads online não anulam a compra, complementam-na. E a imagem dos filmes piratas nem sempre é assim tão má; muitas vezes é tão boa como a de um DVD. O que eu não concordo é com o uso de filmes piratas como principal fonte de cinema, em vez de Cinemas ou DVD's, e ainda concordo menos com a venda ilegal dos filmes piratas, como lá ao pé da escola à frente do senhor Alcides.